© Andrei Dascalescu Still de Constantin and Elena |
Até agora, Constantin and Elena foi sem dúvida o melhor documentário que vi este ano no Doclisboa. É esmagadoramente deslumbrante; verdadeira poesia visual. É incrível como as ideias mais simples podem dar origem a obras de arte de uma magnificência absoluta.
Como tinha outro documentário para ver a seguir a este, infelizmente não pude ir assistir à pequena "palestra" que o Andrei deu sobre Constantin and Elena no fórum da Culturgest. Fiquei com algumas questões acerca da execução do filme. Para já, de caras, onde e como conheceu este casal? Qual é a sua ligação com eles e o que é que o levou a querer contar a sua história? Como é que conseguiu tornar-se praticamente invisível durante as filmagens? Como é que levou os 'personagens' a revelarem-se de uma forma tão natural em frente a uma câmara? É que de facto o filme desenvolve-se com tanta fluidez que por vezes é fácil esquecermo-nos que o que estamos a ver é um documentário e que aquelas pessoas não são actores, são só pessoas a viverem a sua vida, saboreando o presente e revivendo o passado que as uniu.
Como sou muito curiosa, e antes de encher a caixa de e-mail do realizador com mil perguntas que achei que possivelmente até já teriam sido respondidas, decidi fazer uma pequena pesquisa sobre o assunto; e um factor determinante explicou todas as questões que tinha e quaisquer outras que pudessem vir a surgir: o Constantin e a Elena são os avós do Andrei. E agora percebo porque é que Constantin and Elena, mais do que o registo de uma história de amor, é uma história contada com tanto amor e sensibilidade. É que embora esteja cada vez mais convencida de que a ligação entre a arte e a vida pode ser um factor decisivo em termos de trabalho, também tenho vindo a perceber que esta união só pode funcionar em pleno se for estabelecida, de alguma forma, nem que seja por via indirecta, com a nossa própria vida.
É claro que este documentário não pode ser tomado enquanto verdade absoluta, mas para mim sem dúvida funcionou como uma espécie de desbloqueador. Talvez tenha vindo simplesmente confirmar as questões em que tenho estado a pensar mais seriamente desde que voltei de Alcalá.
Sinto que posso finalmente voltar a produzir e hoje tenho a certeza de que a pessoa sobre a qual comecei a trabalhar, há dois anos atrás, não podia ser outra senão aquela. Eu achava que sim e demorei muito tempo a chegar a esta conclusão. Quando me perguntavam se esta era a pessoa x eu respondia que sim, mas ficava sempre a pensar: O que é que isso interessa? Interessava; era mesmo, muito possivelmente, decisivo.
Hoje percebo porque é que era tão fácil para quem via esse trabalho estabelecer uma ligação tão imediata com o mesmo. Hoje percebo que esse trabalho era só um início e não um projecto fechado sobre si próprio. Hoje percebo que não estava a trabalhar sobre um tema mas sobre mim. Hoje percebo que a etic foi uma boa desculpa para parar de pensar e mascarar tudo aquilo que me preocupava. Hoje sei o que é que me interessa. Hoje percebo que vou ser capaz de responder ao 'desafio' que há uns meses me paralisou: I want to see more.
Não quero aborrecer ninguém com este texto, até porque provavelmente a maior parte dos que o vão ler não o irão compreender, mas precisava mesmo de deixar isto por escrito para ter a certeza de que não me vou voltar a esquecer.
Para me 'redimir' deixo mais umas informações sobre este documentário que descobri enquanto pesquisava. É possível que o mesmo não volte a passar tão cedo numa sala de cinema em Lisboa, mas parece que vai ser exibido, ainda esta semana, no canal Odisseia:
- quinta-feira, 29/10/2009, às 22h00;
- sexta-feira, 30/10/2009, às 8h00 e às 13h00.
Para mais informações sobre o filme podem ler a sinopse no site do Doclisboa, acedendo à página através do link que se encontra no início desta mensagem ou podem consultar mais detalhadamente o site do próprio documentário, onde também poderão encontrar outros trabalhos do Andrei Dascalescu.
Andrei Dascalescu, excerto de Constantin and Elena, Roménia, Espanha, 2008, 100’.
"In a Romanian village, an elderly couple has been happily married for almost 55 years. Constantin and Elena know that life must end, but are happy with everything that they've had. They fill their days with chores in and around the house, going to church and receiving welcome visitors, not to mention a catnap every now and then. Everything that these two old lovebirds do, they do slowly: from helping each other get dressed and climb ladders to weaving beautiful tapestries. Often they sing old Romanian songs at the top of their voices, or Constantin's old battle songs from his army days. Constantin and Elena aren't afraid of death, and discuss it in a practical way. They're proud of what they're leaving behind and happy with their love. But they do think it's unfortunate that they have so little time left together. As Constantin puts it, With one eye I cry, with the other, I laugh. Director Andrei Dascalescu spent a year following this loving couple. His camera films each scene from a different position. It never pans or zooms in, and there's no voice-over or interviews. This love story tells itself in images, and the filmmaker, also the couple's grandson, keeps himself invisible." [sinopse]
2 comentários:
Filipa muito obrigada pela sugestão / alerta . Nao vou perder o Constantine e Elena , aliás a minha escolha acertada mas ausente , beijo em ti e continua cheia de arte :P
Não posso acreditar!!!! Dobraram o documentário! Ficou tão mau...
Diana, não viste nada no Odisseia... Tinhas mesmo de ter ido à culturgest :p
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