Gravura de Hogarth Cabo Trim lendo o Sermão ao pai de Shandy, Dr Slop e Uncle Toby |
"Deverá uma imagem ser visível? Se assim é, como descrever a utilização de 'imagens' em textos literários? Ou, digamos ainda, de elementos imagísticos nas transmissões radiofónicas? Esta questão é implicitamente levantada num dos textos mais elaborados da literatura inglesa, Tristam Shandy, de Lawrence Sterne. A obra, que foi publicada com uma gravura de Hogarth, remete também para Gainsborough e problematiza, ao longo das suas páginas, a relação entre a palavra, a imagem, o gesto e a cena. Nesta conferência, proponho-me 'olhar' - ou deverei dizer 'ler' (e, se assim é, qual a diferença?) - algumas 'cenas' deste romance para melhor compreender exactamente como é que uma imagem literária, que por definição não é apenas visual, funciona - e quais as implicações que esse modo de funcionar acarreta." Samuel Weber
Samuel Weber dá início à conferência descrevendo o que sentia em criança, quando ouvia os programas de rádio transmitidos antes do advento da televisão. Era a partir do som que as imagens se formavam. Quando a televisão surgiu, a força das imagens (visuais) era tão brutal, que Weber desistiu de ouvir esses programas (quanto mais vê-los). O conferencista afirmou que recuperou grande parte da emoção que anteriormente sentia, através dos textos literários.
Ora se numa imagem literária o invisível se torna visível ao tornar o visível invisível, concluo que esta será uma construção efectuada pelo "leitor", que pode, ou não, existir enquanto imagem visual. É uma imagem que opera na plataforma da "divisibility", traduzindo aparências e aparições. Aparições no sentido de fantasmas, tal como acontece no romance de Lawrence Sterne, em que todos os personagens, à excepção de Tristam Shandy, são espectros.
Talvez a gravura de Hogarth possa ser considerada uma espécie de imagem literária, já que ela própria é uma construção deste artista, e contém detalhes que à partida, nem eram mencionados na primeira versão do romance de Sterne. Exemplo disso é o chapéu que se encontra caído no chão, precisamente na linha que separa a luz da sombra, ou antes, a vida da morte. É de salientar que este foi um dos últimos textos do novelista, que aqui surge personificado enquanto Tristam Shandy, e que foi escrito, integralmente, enquanto sucumbia vítima de tuberculose.
Samuel Weber dá início à conferência descrevendo o que sentia em criança, quando ouvia os programas de rádio transmitidos antes do advento da televisão. Era a partir do som que as imagens se formavam. Quando a televisão surgiu, a força das imagens (visuais) era tão brutal, que Weber desistiu de ouvir esses programas (quanto mais vê-los). O conferencista afirmou que recuperou grande parte da emoção que anteriormente sentia, através dos textos literários.
Ora se numa imagem literária o invisível se torna visível ao tornar o visível invisível, concluo que esta será uma construção efectuada pelo "leitor", que pode, ou não, existir enquanto imagem visual. É uma imagem que opera na plataforma da "divisibility", traduzindo aparências e aparições. Aparições no sentido de fantasmas, tal como acontece no romance de Lawrence Sterne, em que todos os personagens, à excepção de Tristam Shandy, são espectros.
Talvez a gravura de Hogarth possa ser considerada uma espécie de imagem literária, já que ela própria é uma construção deste artista, e contém detalhes que à partida, nem eram mencionados na primeira versão do romance de Sterne. Exemplo disso é o chapéu que se encontra caído no chão, precisamente na linha que separa a luz da sombra, ou antes, a vida da morte. É de salientar que este foi um dos últimos textos do novelista, que aqui surge personificado enquanto Tristam Shandy, e que foi escrito, integralmente, enquanto sucumbia vítima de tuberculose.
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