Excertos do filme Prova de Contacto, da autoria de João Mário Grilo.
Na semana passada, no âmbito da disciplina do Mestrado em Pintura, Novas Tecnologias Artísticas, visitámos o atelier do artista José de Guimarães, em Lisboa.
Organização, rigor e metodologia são as palavras que melhor caracterizam este espaço. É um atelier amplo, luminoso; um espaço de criação perfeito. Foi interessante conhecer o local onde nascem os seus projectos (embora, segundo o artista, o atelier de Paris seja o local de silêncio onde frequentemente se refugia para pensar e pesquisar logo, o verdadeiro espaço onde as suas obras efectivamente têm início). Foi bom poder ver o trabalho deste artista no seu ambiente de origem, em vez de inserido num contexto museológico.
Infelizmente, durante a visita, ninguém se sentiu à vontade para pedir ao artista se podia fotografar, pois apesar da amplitude do espaço e até alguma frieza, característica de um 'laboratório', também está presente uma forte sensação de intimismo e reserva. Deixo um excerto do filme Prova de Contacto, gentilmente oferecido pelo artista, onde se pode vislumbrar, logo no início, a zona do atelier reservada aos projectos de menor dimensão. É mostrado também parte do 'alfabeto' que usa na construção do seu discurso pictórico.
Aconselho vivamente a aquisição deste documentário da autoria de João Mário Grilo (embora ainda não o tenha visto à venda...); sistematiza muito bem o percurso artístico e o pensamento de José de Guimarães.
Engenheiro de formação, o grande referente que veio a 'condicionar' toda a obra deste artista surge em Angola, no final da década de 60. Através da observação das manifestações artísticas africanas, especialmente da sua vertente cultual mágico-religiosa, José de Guimarães cria uma nova linguagem, a sua. Durante toda a visita ao atelier, que contempla diversas salas onde se encontram centenas de peças de arte africana, o artista defendeu esta necessidade de criação de um código de sinais singular, específico de cada artista, pois considera que só assim é possível construir um corpo de trabalho coerente, coeso, único. É este alfabeto primordial que se subdivide nos vários projectos ou séries que tem vindo a construir.
“As minhas motivações, os meus temas e assuntos, têm sido praticamente os mesmos ao longo de todos estes anos de percurso artístico, para atingir a sua finalidade última – a Harmonia. (...) Cada artista deve descobrir o seu alfabeto e trabalhar com ele até ser capaz de contar uma história, que é sua e única. Descobrir ou inventar o sinal, o símbolo, é importantíssimo porque é neles que se condensa uma carga forte como a dos mitos. (...) A minha simbologia está viva. Adapta-se às novas situações, aos novos desafios. Alimenta-se deles, para encontrar novas formas e adquirir novos significados. De outro modo tornar-se-ia inócua e perderia todo o seu poder de actuação. (...) Ao longo dos tempos, o meu projecto artístico tem sido criar uma espécie de osmose, de mestiçagem cultural. Demonstrar que é possível, através da arte, a convivência racial, de povos e de ideologias.” [José de Guimarães em Prova de Contacto de João Mário Grilo]
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