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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Visita ao atelier de José de Guimarães



Excertos do filme Prova de Contacto, da autoria de João Mário Grilo.


Na semana passada, no âmbito da disciplina do Mestrado em Pintura, Novas Tecnologias Artísticas, visitámos o atelier do artista José de Guimarães, em Lisboa.

Organização, rigor e metodologia são as palavras que melhor caracterizam este espaço. É um atelier amplo, luminoso; um espaço de criação perfeito. Foi interessante conhecer o local onde nascem os seus projectos (embora, segundo o artista, o atelier de Paris seja o local de silêncio onde frequentemente se refugia para pensar e pesquisar logo, o verdadeiro espaço onde as suas obras efectivamente têm início). Foi bom poder ver o trabalho deste artista no seu ambiente de origem, em vez de inserido num contexto museológico.
 



Infelizmente, durante a visita, ninguém se sentiu à vontade para pedir ao artista se podia fotografar, pois apesar da amplitude do espaço e até alguma frieza, característica de um 'laboratório', também está presente uma forte sensação de intimismo e reserva. Deixo um excerto do filme Prova de Contacto, gentilmente oferecido pelo artista, onde se pode vislumbrar, logo no início, a zona do atelier reservada aos projectos de menor dimensão. É mostrado também parte do 'alfabeto' que usa na construção do seu discurso pictórico.

Aconselho vivamente a aquisição deste documentário da autoria de João Mário Grilo (embora ainda não o tenha visto à venda...); sistematiza muito bem o percurso artístico e o pensamento de José de Guimarães.

Engenheiro de formação, o grande referente que veio a 'condicionar' toda a obra deste artista surge em Angola, no final da década de 60. Através da observação das manifestações artísticas africanas, especialmente da sua vertente cultual mágico-religiosa, José de Guimarães cria uma nova linguagem, a sua. Durante toda a visita ao atelier, que contempla diversas salas onde se encontram centenas de peças de arte africana, o artista defendeu esta necessidade de criação de um código de sinais singular, específico de cada artista, pois considera que só assim é possível construir um corpo de trabalho coerente, coeso, único. É este alfabeto primordial que se subdivide nos vários projectos ou séries que tem vindo a construir.

“As minhas motivações, os meus temas e assuntos, têm sido praticamente os mesmos ao longo de todos estes anos de percurso artístico, para atingir a sua finalidade última – a Harmonia. (...) Cada artista deve descobrir o seu alfabeto e trabalhar com ele até ser capaz de contar uma história, que é sua e única. Descobrir ou inventar o sinal, o símbolo, é importantíssimo porque é neles que se condensa uma carga forte como a dos mitos. (...) A minha simbologia está viva. Adapta-se às novas situações, aos novos desafios. Alimenta-se deles, para encontrar novas formas e adquirir novos significados. De outro modo tornar-se-ia inócua e perderia todo o seu poder de actuação. (...) Ao longo dos tempos, o meu projecto artístico tem sido criar uma espécie de osmose, de mestiçagem cultural. Demonstrar que é possível, através da arte, a convivência racial, de povos e de ideologias.” [José de Guimarães em Prova de Contacto de João Mário Grilo]

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