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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Visita à galeria e ao atelier de Leonel Moura Parte I – O Atelier – Apresentação dos “Robôs Pintores”

© Leonel Moura
"Robô Pintor"
Fotografia de Filipa Gomes

No seguimento das visitas organizadas no âmbito da disciplina Novas Tecnologias Artísticas, esta semana fomos conhecer a galeria e o atelier de Leonel Moura.

Leonel Moura revela-se um artista extremamente inovador, cujo trabalho promove um claro e feliz encontro entre a arte e a tecnologia (embora o próprio saliente a grande diferença entre os dois mundos, já que segundo o artista a ciência resolve problemas, enquanto a arte cria problemas, ou seja, a arte deve questionar, pôr em causa, sem obedecer a quaisquer regras; não tem, de facto, de se preocupar em chegar a conclusões práticas; deve sim, levantar sempre, novas questões).

Nos últimos anos, a grande demanda deste artista tem vindo a prender-se com a criação de 'seres' autónomos, robotizados, dotados de uma espécie de 'inteligência artificial' que lhes permita, efectivamente, criar obras de arte sem obedecerem a qualquer espécie de premissa por parte do artista. Foram alguns destes 'pintores' que conhecemos durante a visita ao atelier.

© Leonel Moura
Leonel Moura apresenta um dos seus "Robôs Pintores"
Fotografia de Filipa Gomes

Sobre os seus "Robôs Pintores", o artista afirma:

"No fundo estamos perante pequenas máquinas inteligentes dotadas de um corpo próprio e autónomo, sem qualquer ligação externa portanto, capazes de se situarem num ambiente pelos seus próprios meios e programadas segundo um princípio de emergência e não de optimização de tarefas predeterminadas a partir de uma forma qualquer de fitness.

© Leonel Moura
"Robô Pintor"
Fotografia de Filipa Gomes

Neste contexto a ideia de situação é decisiva. A robótica convencional tende a criar uma espécie de mapa prévio do território. Nuns casos com a ajuda de câmaras vídeo exteriores que, uma vez analisadas por um computador, fornecem as coordenadas ao robô; noutros casos através de sistemas de triangulação que obrigam à presença de emissores de rádio ou à colocação de balizas com cores ou desenhos específicos à volta do espaço em que o robô se movimenta. São soluções claramente deficientes, pois implicam que o robô esteja dependente de instrumentos auxiliares que espelham apenas aquilo que o programador humano construiu.

Os meus robôs não têm qualquer informação prévia sobre o ambiente, nem recebem informação de fora. O seu conhecimento do ambiente é tão dinâmico quanto a própria pintura que começa com um espaço totalmente em branco e mais tarde se enche de formas e cores. Os robôs pintores vão adaptando o seu comportamento às alterações do ambiente, no início movendo-se de forma aleatória, mais tarde concentrando-se em determinadas áreas com maior expressão plástica. Em certa medida navegam entre o indeterminismo e o determinismo, mas por moto próprio e não através de qualquer comando previamente definido. O que para efeitos do meu projecto é decisivo. Porque só assim se garante o pressuposto conceptual da autonomia que me permite afirmar que os robôs realizam a sua própria pintura e não uma que eu tenha definido previamente ou que tenha imposto por via de um qualquer condicionalismo ambiental. A programação, que existe naturalmente, é concebida de forma a garantir que o robô decida por si mesmo se pinta, quando e com que cor. Daí que cada pintura seja sempre inteiramente original e irrepetível.




Leonel Moura
Swarm Paintings, 2003
Um colectivo de robôs em acção


A criação de um conjunto de máquinas inteligentes com capacidade de produzir autonomamente a sua própria expressão plástica, levanta um conjunto de questões, não só à arte mas acima de tudo à própria ideia de humano. Tanto mais que após a queda de tantas ilusórias e forçadas superioridades (ainda há por exemplo quem pense que só os humanos têm inteligência), a arte continua a ser vista como uma das últimas marcas distintivas do género humano. Naturalmente que os mais cépticos sempre poderão considerar que a verdadeira arte está na criação dos robôs, e portanto ainda é humana. Mas não se pode iludir o facto de que uma vez criadas, estas pequenas máquinas realmente produzem as suas próprias pinturas. Ou seja, eu posso ter concebido os robôs, mas eles criam as suas obras. E como sempre acontece nestas coisas, são os pequenos gestos que anunciam as grandes mudanças.

A autonomia, expressa de forma paradigmática e algo espectacular nos meus robôs artistas, é o grande desafio da robótica actual e do futuro. Pela primeira vez na história, as máquinas são vistas como mais do que simples ferramentas auxiliares ao trabalho humano. O objectivo, claro e assumido, é que venham a constituir uma forma de vida de tipo novo. Artificial, na medida em que essa distinção ainda é operativa, mas acima de tudo independente de nós mesmos, com capacidades e comportamentos que excedem os pressupostos com que foram criados." [Leonel Moura, A arte na era da sua reprodutibilidade digital]

Leonel Moura pensa concluir este projecto com a criação de robôs ainda mais evoluidos e autónomos do que o ISU, o Robot Poeta. O RAP [Robotic Action Painter], por exemplo, é um robô que já consegue decidir quando parar de pintar, ou seja, esta pequena máquina tem a capacidade de escolher, por si só, o momento em que a sua obra está concluida. Tal facto é conseguido através da integração de um sistema de nove sensores ópticos em vez de um. É fabuloso... ele até assina e 'pede' mais papel para continuar a desenhar.




Leonel Moura
RAP em acção, 2006


O próximo passo será a criação de uma espécie de 'consciência artificial' ou 'memória' que permita ao robô ter noção do que está a fazer. Será possível dotar estas máquinas de intencionalidade, romper com o aleatório?

Para a execução destes projectos o artista tem estado a trabalhar em parceria com a IdMind e o Laboratório de Sistemas Inteligentes do Instituto de Sistemas e Robótica/ Instituto Superior Técnico.

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