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domingo, 25 de outubro de 2009

Certamente não foi o melhor dia - Parte I

Sobre Avant la Corrida, do Edgar Pêra, nem me apetece falar. Fui ver porque me pediram para ir. Não desgostei, mas também não posso dizer que tenha gostado. Talvez seja uma curta para quem aprecia realmente a linha de trabalho deste realizador. Eu conheço-o mal; ainda estou na fase em que pondero tentar rever A Janela (Maryalva Mix).

Fui ver Os Esquecidos porque estava incluído na sessão em que iria passar a curta-metragem do Edgar Pêra. Jamais iria ver Os Esquecidos se não estivesse incluído numa sessão que me tivessem pedido para ir ver. O motivo? O mesmo pelo qual não vou ver o World Press Photo.

Não vou ver o World Press Photo porque não há nada que lá esteja que já não conheça. Não vou ver o World Press Photo porque todos os anos a "exposição" é a mesma. Não vou ver o World Press Photo porque não preciso que me mostrem em "fotografias bonitinhas" aquilo que eu já vejo todos os dias quando ligo a televisão ou quando me deparo com os tais Esquecidos de que fala Pedro Neves, quando saio de casa e olho para o lado.

O jornalista/realizador disse que este não era um filme sobre pobreza. É um filme, e vou parafrasear, que nos mostra como vivemos sempre no fio da navalha; se não tivermos um bom suporte familiar e amigos com os quais possamos contar, de um momento para o outro toda a nossa existência pode mudar. Dito de uma forma mais lírica, julgo que pelo próprio: É gente que foi empurrada dos sonhos para o chão. É gente como a gente poderia ser. .................................................. Ceci n'est pas une pipe (só que neste caso, após um "olhar" atento, até nem era).

Espero que os lucros obtidos com as exibições deste documentário, com os eventuais prémios que possa vir a ganhar, ou com sua possível futura comercialização em dvd, venham a ser revertidos em benefício destas pessoas, talvez para tornar estes Esquecidos menos Esquecidos, não?




Pedro Neves, excerto de Os Esquecidos, Portugal, 2009, 62’.

E porque a minha opinião não passa disso mesmo, uma opinião, há mais informações sobre este documentário, aqui, e outros excertos, aqui.

2 comentários:

Pedro Neves disse...

Olá. Vim ler o seu artigo porque mo mandaram por email. Este filme não foi feito para ser bonitinho, porque a realidade não é bonitinha. O filme foi feito sem apoios públicos ou privados de qualquer espécie. Todo o dinheiro que foi gasto a fazer o filme (a pesquisa, a produção, a rodagem, as cassetes, o combustível, as refeições, a montagem, o equipamento de cãmara, os tripés, a pós-produção, os cartazes, o envio para festivais, etc) foi feito pelo realizador e pela Red Desert (uma recem criada produtora da cidade do Porto, da qual o realizador é sócio. Se houver prémios ou outras receitas - e este filme não foi feito e pensar nisso - não vão ser, como sugere, revertidas em benefício das pessoas retratadas. Vão reverter, isso sim, para tentar pagar uma mínima parte do trabalho que tivemos a fazer este filme. Ou não lhe parece que é justo que nos possamos pagar pelo nosso trabalho, dado que o dinheiro não cersce das árvores e há sempre contas para pagar? Desculpe se este comentário lhe possa parecer, de algum modo, agressivo, mas pense: achava normal que lhe sugerissem que doasse o seu salário integralmente (ou mesmo em parte) aos mais desfavorecidos, deixando-a sem nada no final do mês? O que sugere é que explorei as pessoas e deviams er elas a ganhar com o meu trabalho. Ora, não as explorei, entraram de livre vontade, contaram-me o que quiseram (e se viu o filme terá percebido isso). Não paguei, não pago e não pagarei por entrevistas ou assuntos. Isso é um estabelecer um tipo de relação que não me interessa. E a isto eu chamo coerência. Cumprimentos, Pedro Neves

Aquela que procura Oz disse...

Olá Pedro,
Claro que vi o filme e também fiquei na sala a ouvi-lo falar, no final da sessão.
Desconfio sempre deste género de trabalho, pois penso que o seu lugar não é em salas de cinema ou inserido num contexto museológico. Se a sua intenção não é ajudar, e calculo que seja uma pessoa realista logo, não deve estar a pensar que o documentário que fez vai, por si só, mudar alguma coisa na vida destas pessoas, a única coisa que posso dizer é que continuo sem perceber as suas motivações. Na realidade, o Pedro não está a mostrar nada que a grande maioria das pessoas já não conheça (diria mesmo todas); podem não conhecer a Candidinha, podem não conhecer a Helena ou o Albino, mas certamente conhecem alguém que infelizmente se encontra numa situação semelhante. Tal como diz, a realidade está longe de ser bonita, mas isto é senso comum, não é novidade para ninguém. Quem não ‘olhava para o lado’ antes de ter visto o seu documentário, certamente continuará a não olhar. As imagens, por si só, hoje em dia não mudam nada. Mudaram, em tempos, quando eram novidade. Nos dias que correm, num mundo tão saturado de imagens, as pessoas tornaram-se insensíveis. A culpa não é delas, a culpa é da repetição; somos constantemente bombardeados pelas mesmas imagens, e isso torna as pessoas insensíveis ao poder que estas eventualmente poderiam ter. Acho que um caso paradigmático desta situação são as imagens dos aviões a embaterem nas torres gémeas. Inicialmente eram horrorizantes, mas foram tão repetidas, vezes e vezes sem conta pelas televisões de todo o Mundo, que perderam a sua força. Acabámos por olhar para elas com naturalidade; o efeito de choque que tinham à partida, desvaneceu pela repetição. Mas isto também não é novidade. Já Andy Warhol, na década de 60, com a série de cadeiras eléctricas, tentava ‘provar’ esta perda de poder das imagens, através da repetição. O ser humano torna-se indiferente quando submetido aos mesmos estímulos sistematicamente; torna-se passivo. É por isso que o seu documentário não pode mudar nada. Nós já vimos ‘essas’ imagens. E se não pode mudar nada, e se a sua intenção não era ajudar, o que é que nos quer mostrar com “Os Esquecidos”?
Aceitaria o seu trabalho enquanto reportagem, apresentada num contexto jornalístico, informativo, mas não da forma como o vi; tal como aceito as fotografias do World Press Photo impressas nas páginas de um jornal, mas não expostas nas paredes de uma ‘galeria’. Até acredito que não vá ganhar grande dinheiro com a criação desta peça, ou mesmo que não ganhe nenhum e os eventuais lucros sirvam efectivamente, na sua totalidade, para amortizar os gastos que teve com esta produção, mas tal como lhe disse, o que eu não percebo são as suas motivações; as suas intenções.
Agradeço a sua passagem por aqui. Cumprimentos.

 
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