Este ano o Doclisboa decidiu homenagear o cineasta Jonas Mekas, apresentando-nos uma retrospectiva de parte do trabalho que tem vindo a desenvolver desde a década de 60. Ontem fui à primeira sessão que seleccionei do conjunto de onze que serão projectadas no âmbito do festival.
Jonas Mekas, Scenes From The Life Of Andy Warhol.
Sixties Quartet apresentou quatro curtas metragens editadas pelo artista nos anos 90, cerca de 30 anos depois da filmagem dos excertos que as compõem.
Scenes from the Life of Andy Warhol e Zefiro Torna or Scenes From The Life of George Maciunas foram sem dúvida os meus preferidos.
A primeira curta foi editada a partir de imagens relativas a Andy Warhol e ao seu círculo de amigos, que Jonas Mekas foi recolhendo entre 1965 e 1982. A acção decorre em diversos locais entre Nova Iorque e Montauk: a casa de George Maciunas, a propriedade de Warhol em Montauk, o Whitney Museum, a casa dos Klein, Lexington Avenue, a casa de Jay e Karen Lerner, The Factory, a casa de Stephen Shore, Village Gate e o Dom (Polsky Dom Narodowy), local onde os Velvet Underground and Nico actuaram pela primeira vez em 1966, durante uma Convenção de Psiquiatria.
Allen Ginsberg, Andy Warhol, Eddie Sedgwick, John Lennon, Yoko Ono, George Maciunas, Stephen Shore, Paul Morrissey, Karen Lerner, Jay Lerner, Peter Beard, Lee Radziwill, Tina Radziwill, Anthony Radziwill, John D'Allessandro, Caroline Kennedy e John Kennedy Jr. são algumas das personalidades que se repetem pelas quatro curtas apresentadas. E é precisamente sobre o factor repetição que vou falar em seguida. This Side Of Paradise repetia muitas das cenas passadas em Montauk que já haviam aparecido em Scenes From The Life Of Andy Warhol. Embora do ponto de vista composicional surgissem com uma intenção e sentido diferentes, talvez não tivesse sido má ideia se a organização do festival tivesse apresentado as curtas referidas em sessões diferentes. Houve muitas desistências na sala... Uma grande falta de respeito pelo cineasta, que se encontrava presente (se não se encontrava na sala pelo menos foi visto no exterior).
O valor do trabalho de Jonas Mekas é inestimável. Os fragmentos de memórias do seu quotidiano que habitam as peças que produz, constituem um testemunho extraordinário da cena avant-garde americana do século XX. A sua abordagem intimista surge agora como um legado histórico de carácter antropológico evidente.
Jonas Mekas conseguiu extrair da sua vida um sentido estético. A partir da aparente banalidade de "vídeos caseiros" construiu o seu corpo de trabalho. Foi através da 'colagem' meticulosa de fragmentos do seu quotidiano que o artista decidiu criar a sua obra. É talvez aí que resida a sua genialidade; numa ligação visceral entre a arte e a vida.
"Film became a way of appreciating, almost literally, every second of his life."
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